Moda envolve tudo, desde uma peça de vestuário até como podemos enxergar o mundo. Linhas, tecidos, agulhas e oportunidades são alguns dos instrumentos da oficina de “Design de Corte, Costura e Criações” do Projeto Crescer. É um dos espaços ofertados pela Prefeitura de Boa Vista onde os 40 integrantes podem se expressar de forma artística e explorar a criatividade ao máximo.
Divididos entre aulas teóricas e práticas, os jovens aprendem desde o básico, como a costura à mão, dar ponto e usar agulhas. Até o avançado, momento que as máquinas são usadas e a modelagem é praticada. Na oficina os integrantes trabalham com a confecção, restauração de roupas, vestuário, artesanato, criação de peças de decoração e a exploração do lado empreendedor. Na comercialização, eles recebem 20% do lucro, repassado pela Cooperativa do Crescer, garantindo renda extra.
No “Design de Corte, Costura e Criações” os jovens saem qualificados para seguir uma carreira mercado da moda e com a garantia de um futuro melhor. Trabalhando há quase uma década, a instrutora da oficina, Maria Gorete Cantanhede, sabe muito bem dessa realidade.
“Passando por aqui eles se tornam aptos a trabalhar na área. Vão estagiar em empresas e muitos conseguem até ser contratados. Nós temos alunos hoje que trabalham em ateliês. Eles estão com a vida profissional superlegal. Tanto a oficina quanto o Crescer, são ações muito importantes na vida dos integrantes. Pois ocorre uma transformação em seu comportamento e aprendizagem como cidadão”, disse a instrutora.
A sensação de realização é coletiva
Emily Denise, de 16 anos, conta que não sabia nada de costura, mas sempre teve o interesse de aprender por desejar consertar as próprias roupas. Já há um ano participando do Crescer, agora ela já pode. Se encontrando hoje no artesanato, ela se sentiu radiante com sua primeira venda.
“A peça que vendi foi uma almofada. Achei que não ia conseguir, porque foi o primeiro item que fiz. Não teve teste, então fiquei insegura. Então, com a venda fiquei bastante feliz e realizada. Além disso, eu ganhei meu dinheirinho”, finalizou a integrante.
Andreza Vitória também está há um ano como uma das integrantes do projeto. Antes da oficina, só sabia costurar à mão e hoje conta com a experiência de manusear as máquinas e confeccionar. A jovem de 16 anos se sente realizada com os aprendizados adquiridos no Crescer e almeja trabalhar com a moda ao abrir o seu próprio ateliê.
“Gosto muito de roupa e moda. Sempre quis aprender a costurar e no Crescer tenho essa oportunidade. Agora eu desejo cursar uma faculdade de moda e trabalhar na área. Tenho muita vontade de ter um ateliê e criar roupas que eu mesma vou pensar e costurar”, disse.
Projeto Crescer transforma vidas
Uma prova de que Andreza pode realizar o seu sonho é a história da ex-integrante da oficina, Rafaela Almeida. Ela ingressou no Projeto Crescer com 16 anos interessada principalmente pela costura por ter crescido no meio de linhas, agulhas e tecidos da sua avó, uma costureira. A oficina foi uma chance de mergulhar de vez no mundo da moda.
“A minha avó já costurava, então eu cresci nesse meio. A costura fazia parte da família. Então, quando eu soube que o Crescer oferecia essa oficina, me incentivou ainda mais a entrar no projeto”, disse.
A jovem começou como todos os outros, produzindo peças mais básicas até chegar na parte do vestuário. Quando vendeu a sua primeira criação, Rafaela ficou alegre. “Minha primeira peça vendida foi um estojo escolar. Quando eu soube da venda e procura fiquei tão feliz. Eu pensei: ‘Nossa! Eu vendi uma coisa que foi feita por mim’. Depois, com o tempo, fui me aperfeiçoando e acabei produzindo alguns vestidos para algumas mulheres lá do projeto”, completou a jovem.
Com um sonho de costurar maior que tudo, Rafaela sempre buscou aprimorar os conhecimentos aprendidos no Crescer, participando de cursos impulsionada pela rede de ajuda das instrutoras da oficina, como Maria Gorete. Contudo, ela viu a necessidade de dar um passo além e comprar uma máquina de costura. A ex-integrante tomou uma decisão muito difícil: vender seu cabelo para conquistar a sua tão sonhada máquina. Hoje, o sentimento de felicidade prevalece ao garantir a sua renda extra, costurando e criando roupas em casa.
Segundos passos da sua avó, ela ingressou de vez no mercado de trabalho. Em 2024, com 19 anos, com o conhecimento adquirido no Crescer, ingressou numa empresa de confecções, atuando na área de costura. No mesmo ano, Rafaela deixou o projeto, o que não foi nada fácil para a jovem.“Quando eu soube que tinha sido aceita no emprego fiquei muito feliz. Porque tudo que aprendi dentro do Crescer me serviu bastante para conseguir o meu trabalho. Mas sabia que eu sentiria falta do projeto, porque foi onde que eu construí uma história”, completou Rafaela.
Atualmente com 20 anos, ela continua com os seus trabalhos de costura e confecção de roupas na loja e em casa. Ela se sente muito agradecida pelo conhecimento e pela ajuda em achar a sua vocação. “Sou muito grata pelo Crescer. Por tudo o que aprendi e por ter me dado uma oportunidade de um futuro na moda”, finalizou Rafaela.
PROJETO CRESCER – Administrado pela Secretaria Municipal de Gestão Social (SEMGES), o Crescer conta atualmente com 256 integrantes, entre 15 a 21 anos. Todos recebem uma bolsa de R$ 230 mensal, vale-alimentação e vale-transporte, além de outros benefícios. Por meio do projeto, os jovens têm a oportunidade de seguir caminhos promissores.