Projeto Maria Vai à Escola completa 10 anos e reforça compromisso com a proteção das crianças
Parceria entre Prefeitura de Boa Vista e TJ-RR já alcançou mais de 5 mil alunos, fortalecendo cultura de paz, igualdade e prevenção à violência doméstica
Por Marcus Miranda
há 44 minutos - Última atualização há 21 minutos
O projeto Maria Vai à Escola completou 10 anos de atuação e nesta terça-feira, 2, reuniu alunos, educadores e autoridades para celebrar essa trajetória de transformação e enfrentamento à violência doméstica. A cerimônia ocorreu no auditório da Escola Municipal Nara Ney e contou com apresentações musicais, exibição de um vídeo institucional e entrega de certificados aos estudantes da Escola Municipal Laucides Oliveira — a primeira a receber o programa, em 2015.
A iniciativa é uma parceria entre o Tribunal de justiça de Roraima (TJ-RR) e a prefeitura, que ao longo de uma década, alcançou 5.446 alunos do 5º ano em 34 escolas da Rede Municipal, consolidando-se como referência nacional na promoção da cultura de paz, do respeito e da igualdade de gênero entre crianças de 10 e 11 anos.
Projeto transforma vidas e fortalece famílias
A juíza Suelen Alves, da Coordenadoria de Enfrentamento à Violência Doméstica do TJ-RR, reforçou a importância da parceria institucional e os resultados que o projeto alcançou ao longo da década.
“Nosso objetivo é levar às crianças noções de igualdade, cultura de paz, respeito à mulher e às relações familiares. Hoje certificamos cerca de 200 estudantes que participaram das aulas desenvolvidas pelas nossas ‘Marias’, professoras cedidas pelo município para esse trabalho tão importante”, disse.
A magistrada também explicou que os conteúdos são adaptados para o público infantil, mantendo leveza e cuidado diante da delicadeza do tema. “Não falamos de violência logo no início. Começamos com temas transversais e só na última aula introduzimos diretamente a Lei Maria da Penha. Assim, as crianças compreendem de forma leve, mas eficaz, o que fazer e como ajudar. Elas levam essa informação para casa, fortalecendo a rede de proteção. Depois de 10 anos, vemos um futuro promissor, inclusive com proposta na Câmara Municipal para institucionalizar definitivamente o projeto”, contou.
Papel da educação na prevenção à violência
O secretário adjunto de Educação, Isaac Neto, destacou a relevância da iniciativa para a formação social das crianças e para o fortalecimento da proteção às mulheres. “Hoje é um dia de alegria porque a educação tem esse poder transformador. Trabalhar temas como igualdade, respeito e convivência familiar saudável na fase de pré-adolescência é fundamental. Isso forma caráter, reforça valores e prepara uma sociedade mais consciente e justa”, falou.
Ele também ressaltou que aos alunos se tornam multiplicadoras do conhecimento aprendido. “A criança é um agente motivador dentro de casa. Ela observa comportamentos, questiona, orienta e até ajuda a corrigir situações inadequadas. Por isso, esse projeto é tão importante e continuará sendo fortalecido. A prefeitura agradece ao Tribunal de Justiça pela parceria. Esperamos seguir por mais 10, 20 anos transformando vidas e construindo uma sociedade melhor”, concluiu.
Alunos compartilham aprendizados
Alejandro Antônio, 11 anos, contou que agora se sente mais preparado para identificar e agir diante de casos de violência doméstica. “Achei muito útil, pois se vermos qualquer tipo de violência doméstica, a gente sabe o que fazer. O que mais me chamou atenção foi aprender sobre os cinco tipos de violência. Sempre conversava com meus pais sobre o que aprendi e eles acharam muito importante”, disse.
Para Sophya Lima, 11 anos, o conhecimento sobre a Lei Maria da Penha foi o ponto mais marcante. “Aprendi muito e sei o quanto é importante. A lei ajuda a combater a violência doméstica e incentiva a denunciar. Quando contei para a minha mãe que estávamos aprendendo isso na escola, ela ficou surpresa e achou muito útil”, relatou.
Como funciona o projeto?
Instituído em 2015 por meio de um Termo de Cooperação Técnica entre o TJ-RR e a Prefeitura de Boa Vista, o projeto utiliza uma abordagem educativa e preventiva voltada a estudantes do 5º ano, faixa etária considerada estratégica para trabalhar valores como empatia, respeito, cidadania e justiça social.
A proposta é estruturada em seis aulas temáticas, com duração de uma hora cada, duas vezes por semana. Os conteúdos incluem:
Igualdade de gênero
Direitos humanos
Convivência familiar
Tipos de violência previstos na Lei Maria da Penha (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral)
As aulas são conduzidas pelas professoras pedagógicas conhecidas como “Marias” e utilizam metodologias como círculos de diálogo, confecção de cartazes, leitura de tirinhas, curtas-metragens, rodas de conversa e atividades interativas. Ao longo dos anos, o projeto foi reconhecido nacionalmente, com premiações como o Selo de Práticas Inovadoras do FBSP e finalista no Prêmio Viva, da Revista Marie Claire.