Assistência Social

Mais que música, Artcanto é um espaço de acolhimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes em Boa Vista

São mais de 250 vozes, com histórias de superação e esperança por meio do canto coral

Por Wandilson Prata

há 10 horas

Dentre os muitos projetos sociais da Prefeitura, um em especial ecoa o som dos corações de mais de 250 crianças e adolescentes, com idades entre 7 e 17 anos. É o Artcanto — que atua há 23 anos e vai além do canto coral. Ele acolhe, transforma e inspira, com o apoio de uma equipe técnica dedicada, visando o desenvolvimento artístico e humano de cada integrante.

A secretária municipal de Assistência Social, Nathália Cortez, destaca que o Artcanto vai muito além do ensino musical: ele transforma vidas. Segundo ela, mais do que aprender a cantar, os participantes têm acesso a oportunidades concretas que fazem a diferença no desenvolvimento pessoal, social e cultural de cada um.

Os participantes têm acesso a oportunidades concretas que fazem a diferença
no desenvolvimento pessoal, social e cultural de cada um

“É um apoio que faz diferença no dia a dia. Eles vêm de situações de extrema vulnerabilidade e a partir de então, passam a ser acolhidos, mostrando suas habilidades que são moldadas. Nisso o projeto consegue trabalhar o fortalecimento do vínculo familiar e a convivência social. Hoje, nós estamos muito felizes, pois temos adolescentes que entraram pequenininhos e agora cursam Licenciatura em Música na Universidade Federal. Então, é uma honra ter esse projeto social que vai além. É prepará-los para um futuro melhor. Essa é uma das grandes missões do nosso Artcanto”, destacou a secretária.

Os integrantes recebem uma bolsa mensal de R$ 230, lanche, fardamento e, no caso das crianças de 7 a 12 anos, existe uma rota especifica, onde o transporte passa em pontos estratégicos para levá-los até a sede do projeto. Já os adolescentes a partir de 13 anos, contam com vale-transporte. E todos ainda recebem o Cartão do Bem, no valor de R$ 180, que ajuda diretamente na alimentação das famílias.

Transformação pela arte: histórias de superação e acolhimento

A diretora do projeto, Clara Zion, é um exemplo vivo do acolhimento promovido pelos projetos sociais da prefeitura desde a infância. Em 2006, com apenas 12 anos, ela entrou para o projeto Dedo Verde, que na época integrava o coral. Permaneceu até 2011 e foi ali que descobriu sua paixão pela arte e pela música. Desde 2019, Clara vem se destacando no cenário cultural de Roraima.

Clara Zion, acolhida desde a infância pelos projetos sociais da prefeitura,
hoje é diretora do Artcanto e inspiração para novos talentos

“Os projetos sociais da Prefeitura mudaram a minha vida. Foi através deles que encontrei um caminho, uma vocação e pude transformar minha história. Hoje, poder inspirar outras crianças e adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidade é muito especial para mim. Acredito profundamente que a arte tem um papel social — ela acolhe, ensina e transforma. E é isso que buscamos todos os dias no Artcanto”, afirmou a diretora.

Os integrantes do projeto também contam com acompanhamento de uma equipe técnica composta por um psicólogo, um pedagogo e um assistente social. A proposta é fortalecer os vínculos familiares e identificar situações de vulnerabilidade para que possamos encaminhar às redes de apoio e assistência.

Os integrantes também são acompanhados por uma equipe técnica
composta por um psicólogo, um pedagogo e um assistente social

“Além disso, fazemos atendimentos individualizados com aqueles que precisam de um olhar mais atento, trabalhando questões específicas que surgem ao longo do processo”, explicou a assistente social Elenilde Pinho.

Esta semana foi de muita alegria para três integrantes do projeto Artcanto: Kamile Isabele, de 11 anos, Gabriele Félix e Amanda Gabriele, ambas com 12 anos. Após conversarem com a equipe técnica, as meninas foram surpreendidas com um presente especial da unidade: mochilas escolares doadas pela Receita Federal.

Kamile Isabele, Gabriele Félix e Amanda Gabriele, 
foram surpreendidas com um presente especial da unidade

“O Artcanto tem mudado a minha vida. Eu e minhas amigas até comentamos sobre como precisávamos de mochilas novas e hoje cada uma de nós recebeu uma dessas lindas mochilas. Eu realmente estava precisando de uma nova e já estou ansiosa para usá-la e organizar meus materiais escolares”, contou Kamile, emocionada.

Notas e afetos que unem formação musical e acolhimento emocional

A nova unidade do Artcanto foi inaugurada em novembro do ano passado e está localizada no bairro Cambará. O projeto conta com a atuação de um maestro, um regente e um tecladista, que acompanham os alunos durante as aulas. As atividades incluem técnicas de aquecimento vocal e noções de teoria musical.

O repertório é diversificado, que vai desde de música de concerto até popular e regional, como Cruviana e Casinha de Abelha, de Neuber Uchôa, além de composições do Trio Roraimeira. O grupo também se aventura no inglês com músicas como Oh Happy Day, mostrando versatilidade e desenvoltura nos diferentes estilos musicais.

“O Artcanto é uma família”

O integrante Jeiel Matos, de 13 anos, faz parte do projeto desde 2020. Ele conta que sempre teve uma paixão natural pela música e que tudo começou a mudar quando descobriu o projeto. Desde que ingressou, sua vida ganhou um novo sentido.

Jeiel Matos, de 13 anos, faz parte do projeto desde 2020

“Sempre senti vontade de cantar, e quando conheci o Artcanto, tudo começou a melhorar. A música é algo surreal, que combina comigo de um jeito especial. Aqui me sinto acolhido, abraçado. É como se eu realmente pertencesse a esse lugar. E tenho certeza de que, por onde eu for, a música sempre vai me acompanhar”, ressaltou Jeiel.

Rihanna Thyfane, de 17 anos, se despede do Artcanto este ano. Ela integra desde 2022 e relembra que conheceu o projeto em um dos momentos mais difíceis da sua vida — durante a separação dos pais — e encontrou na música um verdadeiro refúgio.

Rihanna Thyfane, de 17 anos, se despede do Artcanto este ano e chegou
a fazer muitas amizades durante sua jornada 

“A música virou meu escape, meu jeito de lidar com tudo e a equipe foi incrível, sempre me apoiando com carinho e atenção. Aqui é onde eu me solto, me conecto com a música, com a minha voz. Esse lugar me ofereceu um suporte que, muitas vezes, eu não tinha em casa — tanto no lado pedagógico quanto no emocional. O Artcanto é uma família para mim. Fiz muitas amizades aqui e saber que esse é meu último ano, me deixa com o coração apertado. Sei que vou chorar bastante na despedida”, contou, emocionada.

Novas oficinas, memórias afetivas e apresentações marcantes

Os encontros acontecem nos turnos da manhã, das 8h30 às 10h, e da tarde, das 14h30 às 16h. Às segundas e quartas-feiras, os ensaios são voltados às turmas de sopranos e tenores; já às terças e quintas, é a vez dos contraltos e barítonos. Para o próximo semestre, o projeto oferecerá aulas de flauta e violão, que serão disponibilizadas para os integrantes que já fazem parte do projeto.

O coral faz apresentações em eventos promovidos pela prefeitura e também por instituições privadas, mediante solicitação à Secretaria Municipal de Assistência Social. Um dos principais momentos do ano é o Natal da Paz, para o qual os ensaios são totalmente dedicados durante o segundo semestre, com um repertório que varia entre 15 e 17 músicas.

Os encontros acontecem nos turnos da manhã, das 8h30 às 10h, e da tarde, das 14h30 às 16h

A novidade deste ano é o Festival Artcanto, criado no ano passado em comemoração ao aniversário do projeto, celebrado no dia 4 de julho. Nesta edição, os integrantes do coral farão uma viagem no tempo, resgatando memórias afetivas por meio de um repertório nostálgico que homenageia os grandes sucessos dos anos 1980 e 1990.