Patrulha da Chuva

Boa Vista registra volume de chuvas acima da média em julho

Com mais de 460 mm acumulados no mês, sistema de drenagem fica sobrecarregado e equipes da prefeitura atuam para reduzir impactos para a população

Por Marcus Miranda

há 23 horas

Boa Vista tem enfrentado dias seguidos de chuvas fortes e volumosas neste mês de julho. O acumulado registrado até agora é de 469,2 mm, índice considerado elevado para o período, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A média de chuvas do mês de julho é de 308 mm, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A grande quantidade de precipitação pluviométrica tem elevado o nível do rio Branco, que já está em 7,87 metros, conforme dados disponíveis no site da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (CAER) — faltando apenas 13 centímetros para alcançar a cota de alerta (8 metros).

A soma desses fatores afeta diretamente o escoamento de água na capital. O sistema de drenagem fica sobrecarregado e ocorre acúmulo em determinadas regiões, principalmente em áreas próximas a lagoas.

“Estamos acompanhando de perto o volume de chuvas e o comportamento do rio Branco. Nossas equipes da Patrulha da Chuva estão nas ruas diariamente, monitorando pontos críticos, desobstruindo canais, dando suporte à população e atuando para minimizar os impactos”, afirmou o prefeito Arthur Henrique.

“É um volume considerado acima do normal", disse Flávia Cantanhede, da Defesa Civil do Município, sobre o nível do Rio Branco

De acordo com Flávia Cantanhede, da Defesa Civil do Município, o Boletim de Alerta emitido pelo Cemaden mostra que a previsão meteorológica indica acumulados de até 150 mm nas próximas duas semanas. “É um volume considerado acima do normal. Concretizando-se essa previsão, o nível do rio Branco tende a continuar elevando, chegando ao possível extravasamento”, afirmou.

Rios e igarapés cheios dificultam escoamento da água da chuva

O assessor técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) e mestre em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), Luis Felipe, afirmou que Boa Vista passa por um período de transição climática.

“O fenômeno El Niño já está em declínio e o La Niña deve começar a influenciar o clima local neste período de julho e agosto. Isso pode trazer chuvas ainda mais intensas e uma leve queda nas temperaturas. No fim do La Niña, é comum observar um aumento expressivo no volume de precipitações, o que exige atenção redobrada das autoridades e da população”, explicou.

Equipes da Patrulha da Chuva estão diariamente nas ruas trabalhando 

Ele afirmou que o acúmulo de água em Boa Vista é também consequência de um conjunto de fatores naturais, antrópicos (causados pelo ser humano) e das mudanças climáticas. “Boa Vista está situada em uma área de relevo plano, com solo muitas vezes encharcado e com lençol freático superficial. Quando chove muito em um curto intervalo, o solo não consegue absorver tudo e os sistemas de drenagem natural ficam sobrecarregados. Isso gera alagamentos, principalmente em áreas mais baixas”, reforçou o especialista.

Fatores naturais

A cidade está localizada em uma região conhecida como pediplano do rio Branco, uma área naturalmente aplainada. O clima equatorial favorece períodos intensos de chuvas entre abril e agosto. Em períodos como o atual, o volume de água pode ultrapassar a capacidade de drenagem dos rios, igarapés e do próprio solo.
“Boa Vista tem uma geografia peculiar. Grande parte da cidade está assentada sobre áreas que já foram lagoas ou igarapés. O solo dessas regiões tende a saturar rapidamente com chuvas intensas, o que favorece alagamentos mesmo com poucas horas de precipitação contínua”, detalhou Luis Felipe.

Em dias que a chuva dá uma trégua, equipes da Operação Tapa Buraco percorrem diversos pontos da cidade

Fatores antrópicos

A ação humana também contribui diretamente para os problemas. O descarte inadequado de lixo entope bueiros e canais, impedindo o escoamento da água da chuva. Só nessa segunda-feira, 21, foram retiradas cerca de 400 toneladas de resíduos de ruas e do sistema de drenagem.

O descarte inadequado de lixo entope bueiros e canais, impedindo o escoamento da água da chuva

O especialista chama atenção também para o fato de que ocupações irregulares em áreas de lagoas, igarapés e margens de rios suprimem a vegetação nativa e prejudicam o fluxo natural da água.

Em diversos pontos da capital, equipes retiram grandes quantidades de lixo como forma de desobstruir bocas de lobo e canais de escoamento

“Quando se constrói sobre áreas alagadiças ou se elimina a vegetação ciliar, você desorganiza o sistema natural de escoamento. O que antes era uma área de retenção natural de água vira um obstáculo. E a água, sem alternativa, procura outros caminhos, invadindo ruas e casas”, reforçou Luis Felipe.

Prefeitura já eliminou 36 pontos de alagamentos na cidade e segue ampliando a rede de drenagem da capital

A Prefeitura de Boa Vista solucionou 36 pontos críticos de alagamento em 21 bairros. São eles: 13 de Setembro, 31 de Março, Asa Branca, Caçari, Caranã, Centro, Cidade Satélite, Dr. Sílvio Leite, Jardim Primavera, Jóquei Clube, Liberdade, Mecejana, Operário, Paraviana, Professora Araceli Souto Maior, Santa Tereza, São Francisco, São Vicente, Senador Hélio Campos, Tancredo Neves e União.

A Prefeitura de Boa Vista solucionou 36 pontos críticos de alagamento em 21 bairros

Quase 48 km de drenagem foram executados pela atual gestão. Outros pontos críticos recebem obras de infraestrutura para ampliar a rede e, consequentemente, agilizar o escoamento da água.

“Nós mapeamos Boa Vista de forma contínua, identificando os pontos críticos que precisam de intervenção e agindo nesses locais. Estamos com obras de drenagem em andamento nesse período e com recursos garantidos para obras maiores e mais complexas que serão iniciadas em vários bairros da cidade, para reduzir ao máximo os impactos das chuvas para os moradores”, afirmou o prefeito Arthur Henrique.